Punch Magazine
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A Punch Magazine é hoje uma marca reconhecida pela sua aposta em talento nacional e emergente, com forte presença no meio musical lisboeta, em salas como o Titanic Sur Mer, a Poolside e o MusicBox. Muitas das bandas que um dia serão "grandes" passaram pelas noites Punch, que têm sido uma autêntica rampa de lançamento para bandas e artistas que estão a começar a dar os primeiros passos ou outros cujo génio ainda não foi inteiramente compreendido. Fazemos treze anos de vida este mês de Dezembro de 2024 e decidimos celebrar com três noites de concertos, uma espécie de mini-festival no Cais do Sodré, em duas salas icónicas da cena da capital: o MusicBox e o Titanic Sur Mer. O cartaz promete! Serão doze artistas em palco e um colectivo de DJs da Punch na última noite, para dar continuidade à festa. Apontem na vossa agenda: Marta Lima, Casa Bonita, Rita Onofre, Progressivu, Sadhäna, Them Flying Monkeys, Sea Angels, Falso Nove, Nunca Mates o Mandarim, Humana Taranja e Zarco. Venham celebrar o nosso aniversário e apoiar a música independente portuguesa.
💥 No mês de Dezembro celebramos o nosso décimo terceiro aniversário com três etapas distintas! A primeira paragem é no Titanic Sur Mer com os concertos de Marta Lima, Casa Bonita e Rita Onofre! Que comece a celebração 🎉- TICKETS
Rita Onofre é o nome da artista e compositora de 27 anos, nascida em Oeiras, para quem uma vida a fazer música foi uma certeza desde cedo. Pegou na guitarra aos 10 anos por influência do pai que descodificou a guitarra intuitivamente. Aos 12 começa a escrever as primeiras canções e a ter formação em guitarra com o professor e cantautor Ricardo Reis Pinto.Aos 16 anos começou o projeto SEASE, banda de indie pop com Choro e Gonçalo Vasconcelos com que pisou os primeiros palcos e entrou na rádio nacional underground (Vodafone, Antena 3, Oxigénio, TSF). Foi durante a pandemia que começou a editar em nome próprio canções em português. “Haja Sempre” (2020) foi o primeiro single, seguido de outros que foram integrados em duas coletâneas: “Ao Pé de Mim” nos Inéditos Vodafone 2020 e “À Porta” nos Novos Talentos Fnac 2021. A boa recetividade e o apoio das rádios nacionais (Antena 3, Vodafone FM, Oxigénio, TSF, Renascença, entre outras), foram parte da motivação para lançar o primeiro curta duração, o EP “Raiz” em 2021. O álbum “hipersensível”, foi antecedido por um ano de colaborações: em 2022 editou “Sonhar”, a canção em dueto com cantora Elisa Rodrigues; “Se Tenho Tempo” em colaboração com Yanagui; participou no “Volume I”, álbum de estreia do coletivo Avalanche onde se pode ouvir “Neblina” (com Sara Cruz e Luar); e editou “CORPO” (com Choro e NED FLANGER). Ainda em 2023 foi selecionada como autora do Festival da Canção 2024, através da livre submissão de canções, com o tema “Criatura”, que chegou à fase final do concurso.
Casa Bonita quer que se sinta em casa na sua música. A banda de cinco elementos de Lisboa, lança o seu primeiro álbum em 2024. O som de Casa Bonita foi feito para a pista de dança – inspirado pelos seus DJs favoritos e pelos longos dias de verão lisboeta. O álbum de estreia homónimo da banda apresenta dez faixas que nos transportam para uma tarde ao sol, cada uma delas com o nome de pratos e bebidas que o grupo, cujas sensações de lar estão enraizadas na família e na comida, partilhou entre si. Uma abordagem artesanal é o fio condutor no universo de Casa Bonita; o álbum ganha vida através de visuais captados em filme de 16mm, que mostram momentos íntimos e autênticos, capturando cenas de verão que evocam nostalgia e familiaridade. O espetáculo ao vivo de é uma experiência imersiva. Visuais quentes e nostálgicos acrescentam textura a uma performance interativa, ao estilo de jazz, que se alimenta da energia do público. A banda molda e adapta cada faixa e transição em resposta às reações da audiência, tirando partido da sua experiência como DJs.
Desde cedo que a música esteve presente na vida da cantautora Marta Lima. Começou os estudos aos 5 anos na Academia de Música de Lagos, onde aprendeu bateria, piano e guitarra. Ao longo do tempo, a música foi ficando em segundo plano, enquanto concluía a licenciatura em Administração Pública e o Mestrado em Relações Internacionais. Durante o último ano de estudos, Marta Lima percebeu que se tinha afastado da sua verdadeira paixão. Assim, deixou a formação académica em pausa e iniciou o curso de Jazz no Hot Clube Portugal, uma mudança que reflete a sua vontade firme de pertencer ao panorama musical português. Em 2023 editou o EP de estreia, “Murmúrio”, e realizou mais de 30 concertos, chamando a atenção do público e da crítica. Além da edição do primeiro curta duração, as participações no NOS Alive, Festival F, a abertura do concerto de Vitor Kley no festival "Arte Doce", em Lagos, e um dueto com Buba Espinho, num espetáculo no Centro Cultural de Lagos, representam, até à data, os pontos altos do promissor início de carreira de Marta Lima. O segundo EP da cantora e compositora é esperado para 2024, sendo antecipado pelo single 'Passos Marcados'.
💥 As Punch Session regressam ao Titanic Sur Mer para a segunda metade de 2024! 🚀- TICKETS
Sérgio Portela é um artista em ascensão conhecido pela sua mistura única de pop alternativo. Com três anos de experiência na cena musical, ele tem vindo a aperfeiçoar a sua arte para criar um som que é ao mesmo tempo cativante e instigante, ganhando uma base de fãs crescente. Inspirando-se num leque diversificado de artistas, Sérgio Portela traz uma nova perspectiva ao mundo da pop alternativa portuguesa. A sua música é caracterizada por letras introspectivas, melodias cativantes e uma vontade de experimentar diferentes sons.Com a sua paixão pela música e dedicação à sua arte, Sérgio está pronto para causar um impacto significativo na cena pop alternativa. Fica atento aos seus próximos lançamentos.
Pedro Miranda é um projeto de canções que são fruto das vivências e da história de quem as compõe, por isso dificilmente teria outro nome. Estas canções, ainda que dispersas, interligam-se pela necessidade visceral de um soçobro se expressar no seu modo mais genuíno, diretamente do coração, num modo de comunicar com o outro que o Pedro acredita ser o superior: através da música e da poesia. PM propõe assim um olhar profundo para dentro, dialogando com o cerne das emoções de quem ouve. As canções reúnem a inocência de uma estreia e a sagacidade de quem sabe o seu rumo. Querem ser ouvidas e partilhadas para uma validação. Musicalmente, as canções são feitas de melodias leves, variadas, mas acessíveis e cantáveis. As harmonias são envolventes e procuram transportar o ouvinte para lugares diversos. Alguns lugares são invernosos, outros veranis e mais vibrantes. Pode-se estabilizar o estilo musical dentro do Indie/Folk e do Pop/Rock
Miguel Matos, músico, cantor, compositor e letrista português. Tendo sido sempre um amante de música encontrou o seu propósito aos 13 anos, para aprender a tocar guitarra e fundar a sua própria banda. Teve inspiração em bandas internacionais e como não poderia deixar de ser, também em artistas portugueses. Talvez por ter referências tão fortes, tanto na língua inglesa como em português, Miguel Matos não consegue restringir-se a uma só língua, escrevendo nos dois idiomas. Aos 18 anos, agarra-se à guitarra, não só devido ao amor que sente pela música, mas também pelo medo de um dia ter que se agarrar a um computador para copiar quadros de contas e outras coisas que o jovem lisboeta não ouviu na faculdade por estar preocupado com os views do Spotify.
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Os donaranha são uma banda do Porto com uma sonoridade influenciada por géneros como o indie rock e indie pop. O som expressivo, por vezes melancólico, por vezes alegre ou por vezes enraivecido, eleva os temas abordados nas canções, que envolvem conflitos tanto pessoais como interpessoais, tocando em questões identitárias e problemas sociais da atualidade. Até hoje lançaram 2 singles e 1 EP, tendo sido bem recebidos. Já atuaram em variados eventos e salas como Maus Hábitos, Socorro e Espaço Compasso.
Em 2024 o Éme regressa aos discos. “Disco Tinto” é o primeiro álbum inteiramente produzido e gravado pelo músico de forma caseira e artesanal, em que a produção terra a terra contrasta com a ambição conceptual da sua escrita. Para o acompanhar em palco estarão alguns dos seus colaboradores mais recorrentes, que também participam no disco: Lourenço Crespo, Miguel Abras, Moxila e Francisca Aires Mateus.
“Elaborado a partir das castas Éme a solo e Éme e Moxila, o Disco Tinto nasce da vinha caseira plantada nos socalcos de S. Vicente, em Lisboa. Depois de colhido manualmente, estagiou na herdade Cafetra, em barricas de Lourenço Crespo e Miguel Abras, com ligeira correcção de mosto por Francisca Aires Mateus. Envelhecido nas caves de João Oliveira, onde vieram ao de cima as suas notas de chocolate e frutos vermelhos, este é um vinho encorpado, fresco e elegante, que apresenta final de boca longo e persistente. Engarrafado com rolha de Filipe Paes, acompanha bem queijos secos e comida de tacho.
Não contém sulfitos.”
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Ancorado num som rock de pendor alternativo, como aquele que se fazia em tempos idos em Seattle, mas também no clássico rock português que Jorge Palma tão bem incorporou, José Camilo e a sua banda entrega-nos canções ora lentas ora rápidas, ora urgentes ora dóceis, de um romântico e lírico preso - e ainda bem - à sua guitarra e aos seus rifes. Acompanhado pelo ritmo imparável de uma bateria metronómica, de um baixo que propulsiona quando assim tem de ser, teclados que acrescentam sempre algo mais e segundas vozes belas que surgem sempre no momento certo, o disco desenrola-se de uma forma coerente e vencedora, talvez como nunca antes o tenha feito. José Camilo e Seus Cúmplices é para todos nós, porém é sobretudo para todos aqueles que acreditam que a vida pode ser muito melhor quando pegamos numa guitarra e imaginamos uma canção cantada a pleno pulmão.
Mars County é uma banda, de rock psicadélico, a sua marca única de entretenimento combina guitarras mergulhadas em reverb e uma batida poderosa, com uma indumentária impecável, que te fará querer viajar numa nuvem de sonhos.
Tomás de Papel é uma folha riscada, que nasceu e cresceu na cidade de Coimbra. Foi levado pelo vento até Sintra, onde nos Blacksheep Studios produziu e gravou o seu primeiro trabalho a solo, um disco intitulado de ‘Desconcertante Modo de Vida’. Num registo intimista e profundo, com influências de indie rock, pop folk e clássico-contemporâneo, Tomás de Papel deixa nos seus poemas, escritos na língua mãe, as perguntas e resoluções, os conflitos e as paisagens de um observador- pensador, sofredor de amor, que procura as respostas para ser feliz.
A explosiva banda portuguesa Green Leather construiu uma reputação merecida como uma das mais energéticas, aventureiras e cativantes da atual cena de Rock em Portugal. Desde 2018, a banda lançou 2 álbuns de estúdio e 2 EPs, que vão desde baladas cósmicas semi-acústicas, explorações de grunge, até grooves de funk contagiantes, culminando num cocktail pesado de funk e blues – ou "crocktail", se preferir.Os seus intensos espectaculos ao vivo e discos polidos contribuíram para a rotulagem da sua paisagem sonora como Croc Rock, um micro-sub-género do Rock muito temido, mas elogiado, que os msicólogos ainda estão a tentar decifrar.
Depois de duas edições em que partilharam recinto com o Rock in Rio, e por isso tendo sido obrigados a oferecer uma programação que se distinguisse deste, a combinação da agora utilização exclusiva do Parque da Bela Vista assim como a sua ambição de se assumirem como um dos, se não o grande festival de música português levou-os a trazer um cartaz que teria potencial para conquistar o entusiasmo das massas, mas que acaba por ser desapontante para muitos que se já se tinham tornado fãs do festival, na minha análise. Juntando a isso todos os problemas na hospitalidade e organização de um festival que teve um público consideravelmente menor do que nos anos passados, com problemas no sistema cashless e filas inaceitáveis para as casas de banho, fazendo lembrar pesadelos de edições mais antigas do, na altura, ainda Optimus Alive, não foi para grande parte dos festivaleiros uma experiência da qual ficarão muitas lembranças agradáveis. Ainda assim, alguns dos concertos mais mágicos do ano viram-se no que é o último grande festival de música do verão este ano, e destaco aqui 3 dos melhores dados por bandas internacionais.
Quando penso em trip hop, a primeira banda que me vem sempre à memória são os Massive Attack, e por boa razão. O grupo teve, a partir dos anos 90 (e na década anterior, noutros moldes) um papel fulcral na definição do som do subgénero: uma sensual mistura entre as caixas de ritmos do hip-hop e uma desconstrução da eletrónica de Kraftwerk e de Detroit, criando uma atmosfera cheia de contrastes entre a leveza melódica e o peso da percussão, resultando em música extremamente hipnotizante e psicadélica. Embora tenha um apreço considerável pelo trabalho do grupo, assumo que estava de pé atrás antes do concerto do grupo que encabeçava, a par de Sam Smith, o primeiro dia do Kalorama, precisamente pela razão que me faz gravitar à volta dos discos da banda. Tinha algumas dúvidas sobre a forma como se apresentariam em palco, tendo como pontos de referência concertos de outras bandas da cena eletrónica britânica dos anos 90, como os Chemical Brothers, que não capturam ao vivo aquilo que nos oferecem nas suas músicas em formato de estúdio. Fiquei, então, extremamente feliz por ter estado estrondosamente enganado: foi, sem qualquer dúvida, o concerto do festival, podendo até competir pelo título de melhor concerto do ano em solo português.
De uma banda com já quase 35 anos de carreira e com um nome de peso, não se espera nada menos do que um nível de profissionalismo elevado dos elementos desta e um espetáculo bem oleado. Mas acho que poucos, e especialmente aqueles que, tal como eu, viam ali Massive Attack ao vivo pela primeira vez, esperavam uma produção audiovisual tão tremenda como a que testemunhámos. É de louvar, em primeiro lugar, a capacidade que a banda tem de elevar a experiência de ouvir o seu trabalho ao vivo, tornando quase irrelevante a visão para a imersão completa do público naquelas duas horas que durou o concerto. É mais difícil do que parece tirar partido do sistema de som de um festival, como já vimos por inúmeras vezes em performances do género. No entanto, como se isso não bastasse, todo o estímulo visual e vertente ativista do concerto elevou-o até um lugar que eu não pensei que fosse testemunhar com Massive Attack. Possivelmente o sinal mais óbvio de quanto essa vertente contribuiu para o espetáculo foram os vários momentos em que, durante o concerto, a produção visual me “distraiu” do que se passava em palco, e fiquei vidrado com toda a informação que recebia por detrás dos músicos. Ainda além disso, fomos agraciados com a presença de convidados de luxo como Elizabeth Fraser e Young Fathers, esses últimos então não de todo esperados, pelo menos por mim. Finalmente, o concerto funcionou como uma viagem pela longa carreira dos Massive Attack, o que me fez também aperceber de que, para uma banda de eletrónica que surge nos anos 90, o seu trabalho mantém-se bastante mais fresco e atual do que esperava. Fiquei assumidamente arrebatado por esta performance que, para mim, foi mais valiosa do que a soma total de toda a música que se ouviu naquele dia no Parque da Bela Vista, e evidentemente, à espera de mais duas horas como estas.
Entre os LCD Soundsystem e os Massive Attack podem se criar muitas pontes no que toca à sua posição no paradigma musical mundial. Como os Massive Attack, os LCD já contam com uma carreira longa que os colocou numa posição de referência para os seus nichos musicais, o trip-hop no caso dos anteriores e o dance punk no caso destes. Da mesma forma, as duas bandas têm visto as suas linhas criativas a ganhar uma relevância cada vez maior no referencial do músico contemporâneo, embora no caso do grupo liderado pela já figura mítica de James Murphy, de uma forma ainda mais colada à sua filosofia. O dance punk como subgénero tem estado tanto en vogue como completamente esquecido à medida que o tempo passa, começando com nomes como Gang of Four, por exemplo, e hoje recuperados, até numa posição mais comercialmente visível como no álbum What’s Wrong with New York, da estrela em ascensão The Dare (que na sua essência até se pode interpretar como uma quase duplicação dos LCD Soundsystem, ou de alguns dos seus elementos, tanto musicalmente como tematicamente). Além de tudo isto, outro fator que junta as duas bandas, e talvez o mais relevante no que toca à análise do concerto, é a magia que os dois grupos mantêm escondida de todos os que a tentam replicar. A sua presença ao vivo contribui, e de que maneira, para esta aura que os diferencia do resto, e neste concerto que também foi o ponto alto do seu dia no MEO Kalorama, no caso dos LCD Soundsystem, com bastante mais competição para esta posição de destaque, a aura a que me refiro esteve entre nós.
Este espírito aliciante de LCD Soundsystem está presente, em todos os seus concertos, até antes dos próprios começarem, na disposição da tonelada de equipamento que a banda traz sempre consigo. O palco torna-se em território minado com todos os sintetizadores e pedais dos quais a banda faz uso na duração do concerto. Com a quantidade de hits que foram sendo lançados ao longo dos seus 20 anos de carreira, é inevitável que alguns destes faltem (no meu caso, fiquei especialmente desapontado pela ausência de “how do you sleep?”, se calhar a música que estava mais curioso para ouvir no contexto de concerto), mas num concerto como estes o alinhamento torna-se ligeiramente irrelevante, tornando-se mais importante o método de transformação dos seus álbuns em peças megalómanas expostas num palco. O contexto aqui é importante para perceber a raiz do meu pequeníssimo desapontamento que adveio desta performance: esperava ainda mais experimentação livre partindo do seu trabalho de estúdio. Apesar disso, não posso dizer que não existiu reimaginação no palco principal do MEO Kalorama, dando-nos uma perspetiva coesa sobre o trabalho deste grupo que também já percorreu muito caminho, e muitas rotas que remetem para o mote de Robert Frost. No entanto, aquilo que torna um concerto de LCD numa experiência quase espiritual não é nada do que falei até agora. Aí está em jogo outro fator: os LCD Soundsystem são a banda da vida de muita gente, especialmente da geração anterior à minha, aqueles que acompanharam o crescimento e a evolução de uma banda que marcou rapidamente a música num todo e em particular o rock do início do século. Além disso, o facto de que tanto se viam jovens adultos como aqueles com muito já vivido, prova que o presságio de “Losing My Edge” não se cumpriu, antes pelo contrário. Os LCD Soundsystem continuam a ter a relevância que tinham quando se estrearam em solo lusitano, numa noite anónima de 2004 no LUX, e é a sua edge que nunca perderam que vai mantendo a média de idades dos seus ouvintes tão estável, e que vai contribuir para mais outros quantos anos de relevância na música internacional.
Foi uma questão de uma semana para os English Teacher passarem de relativamente desconhecidos no nosso país para vencedores do Mercury Prize de 2024 com o seu LP de estreia, This Could Be Texas. No meu caso, não era um nome de algum modo novo, aliás, esta estreia em solo nacional já era esperada por mim desde 2022 e do seu EP Polyawkward. No MEO Kalorama, encostados no palco Lisboa, competindo com os muito mais consensuais The Kills, não se via de todo uma plateia cheia à frente da banda, aliás, até mais vazia do que no concerto anterior naquele palco, dos Glockenwise. Eu próprio vi-me intensamente a demover amigos meus de se dirigirem para o palco San Miguel e assistirem a English Teacher, mas é escusado dizer que o grupo ganhou novos fãs no MEO Kalorama, tivessem mais curiosidade à priori pelo que se passava no menor palco do festival, ou convencidos por outros fãs iguais a mim.
Talvez seja a voz arrepiante de Lily Fontaine a influenciar me nesta minha opinião, mas há qualquer coisa de alienígena na música de English Teacher, ao mesmo tempo guardando extrema nudez e crueza. Desde o tom desesperante, mas energético de “I’m Not Crying, You’re Crying”, até à ironia e atrevimento de R&B, entende-se o forte desprezo que a banda tem pela etiqueta de pós-punk que tanto já foi usada para os classificar. Os English Teacher pouco têm a ver com outras bandas do subgénero com maiores bases de fãs como os Fontaines D.C. ou os shame, por exemplo, facilmente trabalhando os contrastes entre doçura e consciente inocência, e sendo consideravelmente mais audazes que estas. São raras as músicas do grupo que não têm brincadeiras teóricas a nível musical, melodica ou ritmicamente, mas sem que estas se tornem gimmicky ou destoem do contexto onde se inserem. Fazem quase lembrar uns Radiohead nesse atrevimento, sabendo na sua proeza técnica usar os recursos corretos para pegar em contextos temáticos e musicais simples e dar-lhes milhares de camadas. Costumo dizer que há dois tipos de grandes bandas, aquelas que fazem diferente e as que fazem melhor. Os English Teacher são um raro caso, que encontro em todos os projetos que considero liderar os seus contemporâneos: cabem nas duas caixas. E com isto tudo, ainda não cheguei sequer à perícia poética que as letras das suas músicas carregam, dando outra razão para os ainda céticos se tornarem crentes. Num ano em que o Mercury Prize estava carregado de nomeações que noutro ano qualquer eram merecedoras de o vencer, desde Charli XCX a Beth Gibbons, passando ainda por outros nomes extremamente promissores da música britânica como Nia Archives ou The Last Dinner Party, este último com um belíssimo concerto também este ano em Portugal, neste caso nas terras nortenhas do Parque da Cidade, não é por acaso que tenham sido os English Teacher a vencê-lo. Este, como qualquer um dos outros nomes que mencionei, vai estar na boca do mundo durante largos anos, e nós temos a sorte de testemunhar o que é apenas o começo do seu percurso.
Texto: Francisco Galante
Fotografia: MEO Kalorama - Site Oficial
Quem me conhece pessoalmente sabe que desde novembro do ano passado eu não me calo sobre o EP de estreia da banda portuense que mais me entusiasmou nos últimos tempos. Falo dos Marquise, que entre os prémios que recebeu no Festival Emergente no final do ano passado, semanas e semanas com a sua música em destaque na Antena 3 este ano, e passagens em vários festivais de música portugueses de renome este verão, em especial o NOS Alive, foi capaz de conquistar, merecidamente, uma ascensão meteórica desde que me cruzei com o seu trabalho. Foi, então, a cereja no topo do bolo deste seu percurso a sua inclusão no Sobe à Vila desta edição do Paredes de Coura, e igualmente, de um excelente warm-up para o festival em si.
Só a proeza dos 4 Ms que compõem os Marquise (Mafalda, Miguel, Miguel e Matias) em cada um dos seus instrumentos seria suficiente para valer a pena ouvi-los ao vivo. Mas, mais do que isso, a forma como cada uma das suas músicas está escrita faz parecer que não estamos a falar de uma banda com pouco tempo de existência, e muito menos de elementos que estão todos nos seus vintes (mais facilmente parecem músicos com 20 anos de carreira). Como se isso não bastasse, trazem o seu espírito irreverente e jovem que os diferencia de maior parte dos projetos de grande qualidade que existem neste espaço da música portuguesa. Nada nisto era novidade para mim, está claro, tendo sido este o terceiro concerto do grupo que tive o prazer de assistir, e posso garantir que já na próxima oportunidade estarei no meu quarto, porque realmente não cansa ouvi-los a tocar, não só nos dando a oportunidade de ver as suas músicas já lançadas ganhar outra dimensão, como de ouvir todas aquelas que já vão preparando para um potencial LP de estreia, que, surpreendentemente, ainda melhor escritas e compostas parecem do que o que já vimos até agora deles. Não se enganem ou sequer duvidem por um segundo: tiveram em Paredes de Coura e têm ainda a oportunidade de conhecer a próxima grande banda do rock português neste preciso momento, e eu não me cansarei de ficar estupefacto com a pura destreza que todos eles demonstram sempre que os vejo num palco.
Os Yakuza são outro grupo que ficou comigo desde que os conheci, neste caso há já uns anos atrás, no Centro de Congressos do Estoril e no festival ID NO LIMITS em 2022, que infelizmente é também a sua última edição até à data. Foi numa literal sala de reuniões, em que a banda batia quase com as suas cabeças no teto, que me apaixonei pelo seu jazz, e mais do que isso, pela forma exímia como improvisavam e nos davam uma experiência irrepetível. Acabei por me aperceber à força de que, além de não poder experienciar exatamente o que tinha ouvido naquela noite fria de fevereiro no Estoril, ia também ter dificuldade em apanhá-los em palco nos anos seguintes. Exceto a sua aparição no Jardim Sonoro nesse mesmo ano, até há 5 meses não teria a oportunidade de ver o grupo a tocar nenhuma outra vez. Por isso, é apenas lógico que o meu entusiasmo pela sua presença no Jazz na Relva nesta última edição do paredes fosse gigante, especialmente depois do lançamento dos seus dois últimos singles, “Penha” e “Batota”, algum do melhor trabalho que já vimos do grupo na sua carreira.
O problema de ter altas expetativas sobre qualquer concerto é que com alguma probabilidade sairemos desapontados… se a banda não se chamar Yakuza. A verdade é que não houve nenhuma ocasião nos 4 concertos que vi, incluindo o último, em que pudesse ter pedido mais, sem ser em relação à duração destes. Os Yakuza fazem parecer fácil pegar nos instrumentos e desconstruir o seu trabalho, levando-nos numa viagem dentro das suas cabeças e do seu imaginário rico e impossivelmente funky, enquanto não aparentam fazer mais do que se divertir consigo próprios. Fazem-no, pura e simplesmente, através da qualidade de qualquer um dos membros da banda, que torna muito difícil escolher um elo mais fraco. Começamos com os dois que se mantiveram na banda desde a sua criação, Afonso Serro nos teclados, que cria as tapeçarias sonoras que dão direção a cada música, e AFTA 3000 no baixo, que injeta vida em tudo aquilo que vai saindo do PA como se a bassline estivesse a recitar poemas. Adicionam se a eles dois outros elementos, a já cara familiar de Pedro Ferreira na guitarra, que guia o grupo por curvas e contracurvas como um perito do drift, e a adição mais recente à sua composição, Pedro Nobre, que vai lançando os obstáculos na estrada em que fazem o seu caminho, através da capacidade que tem de adicionar sincopação a qualquer altura da sua performance com a bateria. Tenho extrema dificuldade em descrever qualquer uma das performances dos Yakuza porque apenas uma coisa é certa: é ouvir para querer. Do meu lado, sou já completamente devoto à mestria sagrada que demonstram seja ao vivo ou nos seus discos, e fico apenas infeliz com o aparente facto de que as oportunidades que tenho de entrar dentro do seu mundo sejam tão reduzidas.
Girls 96 chega no ano do indie sleaze e do brat summer e talvez por isso mesmo soe tão fresco e novo, mesmo partilhando pontos de partida semelhantes com as duas das mais predominantes trends de 2024. Paloma Moniz e Ricardo Gonçalves revelaram-nos este projeto em fevereiro deste ano, que assume contornos tão simples e próximos da primeira geração nascida online que inevitavelmente vai puxando cada vez mais netizens, mas que os prende com toda a nuance que cobre o trabalho deles e o seu primeiro EP, 1996. Deram-nos música no primeiro dia do Sobe à Vila em Paredes de Coura, abrindo, e de que maneira, a pista de dança.
O synth pop, o y2k e a feminilidade alimentam-se uns dos outros na música de Girls 1996, e num concerto que foi como olhar para dentro de um estúdio ou de uma sala de ensaio, não tendo por isso menos qualidade. Criou-se em mim quase um sentimento de distanciamento entre o que se passava em palco e à minha volta na plateia, remetendo-me imediatamente para a dicotomia do real e do virtual, ou mais para um espaço de discoteca do que necessariamente de música ao vivo, o que me pareceu totalmente propositado. Não é por acaso que Paloma Moniz é co-criadora do coletivo everyone is a girl, que se debruça precisamente sobre a performance que está inerentemente ligada com a existência de cada um no conceito do digital: o seu EP de estreia, 1996, reflete precisamente isso. Basta olhar para a lírica extremamente catchy com que o seu maior sucesso até à data, “Ainda Importa”, começa (“Estou me a passar/Todas as miúdas são mais giras do que eu/Mais interessadas do que eu, mais da cidade do que eu”), para entender a sua relação com a experiência inevitável de um jovem adulto nos dias que correm, e perceber quão bem o fazem. Os Girls 1996 não são espetacularmente diferentes ou melhores que outros grupos aos quais os podíamos associar, mas através da simplicidade e da meta-ironia que têm grande facilidade em executar foram capazes de já deixar uma marca notável em muitos os que estiveram presentes neste concerto. O seu som fala ao seu público mais pertinentemente como nunca, e quando eventualmente o fã de música comum se fartar desta ressurgência do pop eletrónico no mainstream, não tenho dúvidas que os Girls 1996 se manterão relevantes e com casa cheia sempre que dão um concerto.
Texto: Francisco Galante
Fotografia: Vodafone Paredes de Coura - Site Oficial
💥 As Punch Session regressam ao Poolside (em Alvalade) para a segunda metade de 2024! 🚀- TICKETS
COOPERATIVA - É com o maior dos prazeres que anunciamos uma noite que gostaríamos, desde logo, de poder assumir que se irá repetir mais vezes. O tempo dirá!
Do Ciclo Preparatório geraram-se, ao longo dos anos, externalidades positivas que foram deixando marcas, que ficaram, e continuarão a ficar, para a posteridade. No centro a amizade e a presença, com música à sua volta. Somado às vontades, observou-se espaço para mais se fazer! O Príncipe, o Francesco Manchego e o Gagliardini Graça têm coisas suas, das quais foram dando conta por aí, e agora juntam-se para tudo junto celebrar e uma noite de memória nos trazer! E, porque criar está na ordem do dia, convidam mauger, numa recentíssima cooperação consigo, caminhando em direção ao mundo, em descoberta, dos seus próprios sons, ritmos e canções.
Na noite de 4 de outubro de 2024, o palco da Poolside vai ser um “entra e sai” de gente para cantar e tocar, vai ser uma maravilha!
Até lá!
Inicialmente cantava em Inglês, mas foi em 2019 que Parker começou a contar a sua história em português lançando a mixtape Cão com base de jazz e conforto nas palavras do seu hiphop. Em 2023 há um ponto de viragem no seu propósito de escrita com o álbum Como Foguetes Entre Estrelas, um interlúdio ao futuro dos seus temas com faixas como “cada bala”, um beat que tanto tem de statements como de humor. Já “imperfeito”, é uma sessão de terapia de 6 minutos sobre a tranquilidade da imperfeição com memórias de quem já não cá está. Em 2024 Parker abre o seu museu com A Exibição d’Arte, com peças como “Bourdain” e “Perdido na Tradução” com uma estrutura e coesão de Hip Hop e R&B que plantam e organizam as ideias e vontades do que está para vir, um álbum temático e intuitivo dedicado apenas ao Jazz. Uma outra sessão de terapia que todos nós provavelmente precisamos asap.
O trabalho de Sampha dentro do que é a cultura hip-hop e além desta começou realmente a ser notado depois de várias colaborações com alguns dos músicos mais proeminentes do género. Seja em “Father Time”, em Mr. Morale and the Big Steppers de Kendrick Lamar, ou em “Too Much”, em Nothing Was The Same de Drake quase uma década antes, é um artista que tem sempre vindo a mostrar trabalho e a quebrar regras em relação ao que é esperado do R&B contemporâneo e do neo-soul, mas que até há pouco tempo não era propriamente um nome que fosse esperado ver no prime-time de um grande festival de verão, muito menos no palco principal ou em qualquer país que não os Estados Unidos. Apesar disso, e depois deste concerto, tenho em igual parte pena de não ter prestado atenção mais cedo e felicidade por ter tido a oportunidade de assistir ao concerto deste artista.
O melhor termo que encontro para descrever a experiência que foi assistir a Sampha em palco é o desenvolvido pelo filósofo alemão K. F. E. Trahndorff no século XIX, gesamtkunstwerk, que significa em sentido literal “arte total”. Evidentemente, não no sentido em que foi originalmente definido na ópera e na arquitetura (não estamos a falar de uma exploração do espaço entre várias disciplinas da arte), mas em relação a todos os conceitos e filosofias que abrange. Do jazz ao hip-hop e até à eletrónica, Sampha, que não é apenas o intérprete mas também o produtor de praticamente todo o seu trabalho a solo, demonstra um entendimento do contexto do género onde se insere, do que já foi feito pelos grandes inovadores do passado, os quais homenageia, sem qualquer hesitação em, ao mesmo tempo, mostrar a potencialidade do que se pode atingir dentro do imaginário da cultura hip-hop, ao ignorar o que é arbitrário e focar-se no essencial. O fator crucial que separa os bons artistas dos que ficam para a história é a inegabilidade de uma performance ao vivo. Com Sampha, não é necessário saber muito sobre música para perceber que o que se ouviu no dia 14 de agosto em Paredes de Coura foi único, pessoal e mágico. Saí do concerto dizendo que, apesar de ainda ter 3 dias pela frente, tinha acabado de assistir à melhor performance do festival. Estava, sem sombra de dúvida, correto.
Não faz sentido falar da história recente do Vodafone Paredes de Coura sem mencionar o histórico dos IDLES no nosso país e vice-versa. A banda, que tocou em Portugal pela primeira vez no Primavera Sound em 2018, começou realmente a ganhar o reconhecimento merecido do público português em 2022, com a sua primeira aparição no Paredes de Coura. Este ano marcou o regresso da banda ao festival, agora já com mais 1 álbum no seu reportório, Tangk, potencialmente um dos desvios mais significativos da banda em relação ao que nos já tinham mostrado ao longo da sua carreira.
Há pelo menos duas coisas que se podem esperar de um concerto dos IDLES: energia, e um moshpit aterrador. A verdade é que poderia escrever uma página inteira com todas as coisas que a banda faz bem em palco, sejam as performances vocais consistentemente arrepiantes de Joe Talbot, o imenso replay value que um concerto da banda tem, pelo facto de que nenhuma experiência curada pelos IDLES é igual à anterior, mas estaria a falhar no que toca a entender o sentimento de catarse que assistir à banda ao vivo traz. É simples: num mundo em que é cada vez mais difícil encontrar um rumo ou uma razão, os IDLES relembram-nos que estamos todos no mesmo barco, ao gritarem-nos isso com a sua música. Recordo-me sempre de uma entrevista à banda (infelizmente, sem me lembrar de quem a fez e quando) em que Joe Talbot diz, parafraseando e traduzindo, “se fosse preciso saber tocar muito bem para se ter uma banda, os IDLES não existiriam”. Isto não deve ser de todo uma crítica à sua capacidade criativa, aliás, é até uma mais-valia, porque é precisamente do seu espírito DIY que surge este sentimento de proximidade entre os fãs e o grupo. Há válidas críticas a fazer aos IDLES e a esta posição ativista no punk, especialmente no que toca por vezes à superficialidade com que abordam certos temas nas suas músicas, mas é também dessa forma que a mensagem da banda consegue ser universal, e o resultado é capturarem o público de tal forma que um concerto da banda se torna uma experiência imperdível. No meu caso, não tenho como não ficar rendido, e sempre à espera de mais uma oportunidade de mergulhar na loucura que é deles, é minha e é de todos.
O meu bilhete do Vodafone Paredes de Coura este ano foi comprado pouco depois da confirmação de Fontaines D.C. no cartaz, esta que foi coincidentemente a primeira de muitas, largos meses antes da concretização do festival. A banda irlandesa capturou-me instantaneamente quando ouvi o primeiro single do seu segundo álbum, “Televised Mind”, e ainda mais quando ouvi o seu primeiro álbum, Dogrel, com algumas das músicas que ainda considero ícones do movimento pós-punk contemporâneo, como “Big” ou “Sha Sha Sha”. É escusado dizer que era o concerto pelo qual mais esperava do último dia do festival, apesar de ser também um grande fã de Slowdive, seja de Souvlaki, possivelmente o álbum que se mantém como a definição de o que é o shoegaze, seja do seu trabalho mais recente, tanto o regresso aos lançamentos em 2017 com Slowdive como o seu último álbum everything is alive, de 2023.
Apesar do concerto desapontante de Fontaines D.C., Slowdive salvou o dia, ao provar que têm um dos nomes mais merecidos de praticamente qualquer banda com a qual me cruzei. Foi, efetivamente, como uma sessão de mergulho pelas profundezas do mar o concerto com o qual a banda nos deixou, com um misto entre os seus hits dos anos 90 e alguns dos clássicos que já foi lançando nestes últimos tempos. Poucos são capazes de me deixar num estado de pura tranquilidade e imersão como Slowdive, seja através da mestria que os elementos da banda têm em cada um dos seus instrumentos, como toda a produção visual que acompanhou o espetáculo, adicionando a isso o facto de que existirão poucos palcos no mundo que servirão tão bem uma performance de Slowdive como o recinto natural e mágico do Paredes de Coura. Foi igualmente incrível olhar à minha volta e ver uma plateia completamente vidrada no que se estava a passar naquele palco, e perceber que, pelo menos centenas de pessoas estavam globalmente a sentir o mesmo que eu. Acho que não seria necessário para ninguém que está familiarizado com o grupo assistir a este concerto para perceber o sentimento que descrevo, mas a dimensão que ganhou naquele dia foi marcante, acredito, para todos os fãs, especialmente aqueles que o experienciaram pela primeira vez, da mesma forma que eu. É esta vulnerabilidade que a música da banda nos obriga a ter que talvez tenha deixado aqueles que primeiro descreveram o shoegaze no início dos anos 90 com uma sensação esquisita, mas hoje já muitos entendem aquilo que o género é capaz de transmitir a alguém, e que não há, pelo menos atualmente, alguém que o consiga fazer tão bem como os Slowdive.
Texto: Francisco Galante
Fotografia: Hugo Lima (Vodafone Paredes de Coura - Site Oficial)